23/10/2025
A síndrome da sensação de riqueza: o drama silencioso dos auditores fiscais mineiros
Minas Gerais, terra de montanhas, pão de queijo e... uma curiosa síndrome institucional. Uma parte dos auditores fiscais da Receita Estadual (AFRE) parece sofrer de um mal pouco estudado pela medicina, mas amplamente observado nos corredores da Secretaria da Fazenda: a síndrome da sensação de riqueza. Trata-se de uma condição em que a felicidade do servidor está diretamente ligada à superioridade simbólica sobre o cargo irmão, o Gestor Fazendário (GEFAZ).
Enquanto o GEFAZ busca melhorias — seja de estrutura, reconhecimento ou nomenclatura — esses AFREs entram em modo de alerta máximo. Não por risco fiscal, não por ameaça à arrecadação, mas por algo muito mais grave: o risco de perder o monopólio da importância.
A coexistência pacífica com outros cargos de auditoria, como os da Controladoria-Geral do Estado (CGE) e do Tribunal de Contas (TCE), nunca foi problema. Afinal, esses não ameaçam o ecossistema simbólico interno da SEF-MG. Mas basta o GEFAZ cogitar mudar de nome para Auditor de Controle e Finanças, algo que já existe na esfera federal — e que convive tranquilamente com os auditores da Receita Federal — que este grupo de AFREs mineiros entre em campanha: “trem da alegria”, gritam, como se a simples troca de nomenclatura fosse uma tentativa de golpe institucional.
Curiosamente, não há qualquer impedimento legal para a mudança de nome. O cargo continua o mesmo, com as mesmas atribuições, responsabilidades e limitações. Mas para estes AFREs, o problema não é jurídico, é psicológico. A mudança de nome ameaça a aura de exclusividade que alimenta a tal sensação de riqueza. Afinal, se o GEFAZ parecer demais com o AFRE, quem será o mais importante na sala de reuniões?
Em um gesto digno de novela, estes AFREs chegam ao ponto de se prejudicarem institucionalmente só para impedir que o GEFAZ avance. É como se dissessem: “Se não posso ser o único especial, então ninguém será.” A lógica é simples: manter o status, mesmo que isso signifique travar o progresso de colegas e da própria administração pública.
Enquanto o Tesouro Nacional e a Receita Federal convivem com cargos semelhantes sem crises existenciais, em Minas, a disputa por relevância virou um espetáculo à parte. O GEFAZ quer apenas um nome mais condizente com suas funções. Os AFREs, por sua vez, querem manter o privilégio de serem os únicos com “cara de auditor”.
E assim segue o teatro da Fazenda mineira, onde o que está em jogo não é a eficiência, nem o serviço público — mas o direito exclusivo à sensação de ser mais rico, mais importante e, claro, mais feliz.
O mais curioso é que o mesmo governo que veta a alteração de nomenclatura do cargo de GEFAZ, dando ouvidos aos devaneios dos AFREs desesperados por não perder seu status quo, aceita facilmente a mudança de nome de outros cargos do Estado. (veja aqui)
Quando se quer mudar o nome, muda!