05/06/2025
Artigo | Sofrida Classe Média
A classe média brasileira vem pagando cada vez mais imposto mesmo sem ver aumento real na sua renda.
A numerosa e decisiva classe média “come o pão que o diabo amassou desde 2015” no quesito correção da tabela do Imposto de Renda; e deveria ser motivo de pena, não de ódio. Lembramos que a classe média pode decidir uma eleição presidencial.
O prazo para declarar o Imposto de Renda terminou nesta sexta-feira, 30, mas a corrida para juntar recibos de consultas médicas e mensalidades escolares esconde uma realidade mais incômoda: a classe média brasileira vem pagando cada vez mais imposto, mesmo sem ver aumento real na sua renda. O motivo é simples. A tabela do Imposto de Renda está praticamente congelada desde 2015, sem acompanhar a inflação e o custo de vida, o que distorce quem deve pagar mais. Candidaturas e mais candidaturas à Presidente, nos últimos dez anos prometeram a correção da referida tabela.
Em 2015, com R$ 4 mil você ganhava o equivalente a quase cinco salários mínimos. Hoje, com o salário mínimo em R$ 1.412, essa quantia representa menos de três. Se corrigido pela inflação (IPCA), o valor de R$ 4 mil de dez anos atrás seria equivalente a quase R$ 7 mil em 2025. Mas, como a tabela não foi atualizada proporcionalmente, quem recebe aumentos apenas para manter o poder de compra acaba subindo de faixa de tributação e sendo tratado como “rico” — sem de fato enriquecer.
Embora o governo tenha promovido atualizações pontuais em 2024 e 2025, elas afetaram apenas a faixa de isenção, atualmente em R$ 2.259,20. A mudança beneficia quem ganha até dois salários mínimos, o que é positivo, mas insuficiente para corrigir a distorção para quem ganha acima disso. É como pintar uma rachadura em vez de reformar a estrutura: o problema persiste e a arrecadação cresce às custas da classe média.
Segundo o próprio secretário de Reformas Econômicas, Marcos Pinto, corrigir a tabela integralmente acarretaria uma perda de arrecadação superior a 100 bilhões por ano. Esse valor silenciosamente extraído dos contribuintes não aparece em manchetes nem precisa de aprovação no Congresso. É um aumento de imposto invisível, mas eficaz — e quem mais sente são os contribuintes que sustentam escola particular, plano de saúde, segurança privada, concertinas, muros altos e o funcionamento do país com pouco apoio do Estado. Empreendedores que não apuram quase nada no final do mês. Enquanto o discurso oficial promete justiça social e tributação sobre os mais ricos, a prática mostra que é a classe média que arca com o custo da máquina pública, entra governo, sai governo. Atualizar a tabela do Imposto de Renda seria o mínimo para garantir justiça tributária. Mas, diante da realidade fiscal e das prioridades políticas do país, essa correção parece cada vez mais distante — e a conta, mais uma vez, sobra para quem está no meio. Ou seja: nós da sofrida cl
Gustavo Mameluque
Gestor Fazendário e Diretor do Sinfazfisco-MG
Jornalista
Colunista do Novo Jornal de Notícias e da Revista Tempo de Montes Claros