19/12/2022
Artigo | Galípolo, Paulo Guedes de Lula
Artigo publicado no Jornal de Notícias de 25/06/2022. Pg. 02. Opinião. Montes Claros-MG.
No livro “Manda quem pode obedece quem tem Prejuízo”, os autores Gabriel Galípolo e Luiz Gonzaga Belluzzo expressam a desconfiança de que o mundo não padeça apenas o sofrimento de uma crise periódica do capitalismo, e sim “as dores de um desarranjo nas práticas e princípios que sustentam a vida civilizada”. Assistimos a Palestra de Galípolo proferida no fórum econômico de Davos em que reapresenta o referido trabalho acadêmico.
No livro lançado neste ano, os autores, através de fundamentação assentada em argumentos sólidos e dados estatísticos, identificam e fazem a crítica dos processos dominantes no capitalismo contemporâneo, situando o presente momento em uma perspectiva histórica ampliada.
Na década de 70 o dólar se fortalece e os Estados Unidos passam de credores a devedores em sua própria moeda, avança a dívida pública norte-americana e as grandes empresas financeiras passam a atuar em vários segmentos do mercado e multiplicam-se as formas e os produtos ofertados. Os mercados financeiros ficam muito mais destravados, e assumem uma enorme predominância na economia contemporânea. As agências de classificação de risco passam a adquirir grande destaque a partir de então. E o “mercado financeiro” passa a ditar as normas de vários países em todos os continentes.
Os autores avaliam que a área acadêmica da economia, em extensão considerável, sucumbiu ao poder dos mercados financeiros globalizados. Renomados professores universitários norte-americanos foram acusados de terem alinhado, de forma suspeita, o conteúdo de suas produções acadêmicas aos enunciados úteis ao sistema mantenedor das grandes finanças. Da mesma forma, no relativo aos conteúdos, Belluzzo e Galípolo atacam as teorias assentadas nas hipóteses de que os mercados são instituições intrinsecamente perfeitas como mecanismo de alocação eficiente dos recursos econômicos. Assim, livres de intervenção, os mercados desencadeariam mecanismos de ajustes, que conduziriam automaticamente ao equilíbrio de longo prazo. Dotada dessa presumida racionalidade, a realidade observada nos mercados econômicos se apresenta como infensa à apreciações críticas, visto que é o melhor que se pode ter.
Noções como a de orçamento ciclicamente ajustado e implantação de tetos de gastos limitam a disponibilidade de políticas viáveis direcionadas à comunidade. Os gestores públicos evitam a responsabilidade política por suas escolhas, uma vez que suas opções seriam impostas pelo orçamento. Essas restrições, contudo, usualmente afetam as políticas sociais, porém não se aplicam quando do apoio a bancos. Os impostos e as tarifas públicas crescem, mas apesar disso os serviços públicos são reduzidos. Os autores detestam comparar orçamento público com orçamento doméstico. Acham a comparação sem sentido porque a renda pública é obrigatória.
Belluzzo (um dos pais do Plano Real) e Galípolo criticam economistas liberais, entre eles o Ministro da Economia Paulo Guedes e toda a escola de Chicago, que defendem que a queda do consumo (através do aumento da taxa SELIC) no presente se traduzirá em um movimento automático de aumento da poupança, que conduzirá a um incremento do investimento futuro. Defendem os autores que, na verdade, os agentes econômicos estão mais propensos a ampliar a capacidade produtiva de suas empresas, ou seja, realizar investimentos quando o consumo está em alta e não quando está em baixa no presente. Trata-se do círculo vicioso da expectativa de demanda que o Presidente Lula pretende adotar, se eleito.
A economia brasileira também é foco da análise dos autores. Dirigem sua atenção ao enorme espaço nos noticiários destinados a tratar da elevação da taxa de juros básicos da economia como forma de contenção do processo inflacionário. Fazem reparos ao vínculo direto estabelecido, e argumentam que, em contextos variados que citam, não foi exatamente o excesso de demanda o fator causador da inflação. As posições críticas ao ponto de vista predominante raramente aparecem nos cadernos de economia, apesar de simples e presentes nos discursos de vários economistas relevantes.
Rebatem a crítica de que o Brasil teria uma carga tributária excessiva, por conta de um estado social gastador.
No capítulo final, denominado o prejuízo dos obedientes, os autores leem o tempo presente pela lente dos ideais do Iluminismo e da Revolução Francesa, e temem pela instauração de processos anti-civilizatórios permanentes. São imensas as contradições entre as reais possibilidades que o capitalismo proporciona e as situações negativas enfrentadas.
Finalizando, os autores expressam a desconfiança de que o mundo não padeça apenas o sofrimento de uma crise periódica do capitalismo, e sim “as dores de um desarranjo nas práticas e princípios que sustentam a vida civilizada”. É este portanto parte do pensamento econômico que o Ex-presidente Lula pretende adotar, se vitorioso em 2022.
Gustavo Mameluque
Gestor Fazendário
Jornalista
Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Colunista do montesclaros.com