07/06/2022
Livro do jornalista Anibal Pinto resgata lutas e conquistas de Riani e suas relações com o ex-presidente João Goulart
“Esforço-me para aceitar que muitos brasileiros não acreditam no apagamento da história, no apagamento da nossa memória, mas não consigo e hoje posso dizer que não quero. Não quero e não vou (uma das poucas coisas boas de envelhecer é não precisar dar satisfação a ninguém). No entanto, para fazer esses brasileiros entenderem que a verdadeira biografia do nosso Brasil não é essa contada pelos opressores, é preciso contá-la e recontá-la incessantemente”.
A frase é da ex-primeira-dama do Brasil, Maria Thereza F. Goulart, no seu prefácio para o livro “Riani: as botinas tentaram calar”, 1ª parte, que será lançado em Juiz de Fora no dia 22 de junho, durante sessão solene na Câmara Municipal, que homenageia o centenário de Clodesmidt Riani, transcorrido em 2020.
O autor do livro é o jornalista Anibal Pinto na sua primeira incursão como escritor. Logo no começo, o leitor estará diante das derradeiras horas do governo João Goulart. Numa última conversa por telefone entre o presidente e Riani.
A partir daí, o leitor é convidado a voltar aos anos de 1920 para conhecer o menino Clodesmidt, “que tinha tudo para ser só mais um garoto nascido numa família pobre”.
Mas não. Ao longo do que podemos considerar a primeira parte da sua vida, o garoto Riani contesta o diretor da indústria onde trabalha para defender uma operária grávida. Era apenas um molecote com seus 14 anos, que não mediu (e não medirá em toda a sua trajetória) as consequências de sua atitude em defesa dos trabalhadores.
Com pouco mais de 20 anos, ele se torna uma referência entre os trabalhadores da empresa de energia elétrica onde trabalha e mais tarde se filia ao sindicato. Indignado com a inércia dos dirigentes sindicais diante das carências dos trabalhadores, Riani decide mudar essa rotina e passa a atuar com mais determinação a partir do final dos anos de 1940. Aos poucos, consegue vencer a primeira eleição sindical, elege-se membro da federação e da CNTI, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria, então a maior organização sindical da América do Sul.
Para Riani, ainda não era o suficiente. Ele precisava, com seu grupo, criar um novo paradigma na luta dos trabalhadores. Era preciso discutir não apenas aumentos de salários, mas criar leis que garantissem direitos e justiça social.
Mas as amarras da legislação trabalhista da época era o grande obstáculo. O movimento sindical liderado por Riani e o conjunto das forças progressistas, com o apoio político de João Goulart (vice-presidente e depois presidente), partem para pautas de reivindicações de fundo político e social para atendimento a toda a classe dos trabalhadores. E nasce o CGT.
É nesse contexto que são criadas as leis do 13.º salário, aposentadoria por tempo de serviço, auxílio-maternidade, auxílio-família, auxílio-reclusão, férias proporcionais, entre outras.
Se Riani tinha o apoio de João Goulart, os governos dos quais Jango participou — e o seu próprio governo — precisavam do apoio dos trabalhadores e seus representantes de modo a terem musculatura para enfrentar a força dos conservadores, sempre apoiados por grande parte militares.
Riani também exerce grande influência na política, criando diretórios do PTB no interior de Minas e se elegendo deputado estadual, sempre com votações expressivas. Também com a ajuda e apoio de Jango, então presidente nacional do PTB, mudou a face do partido no estado.
Essa força política tem grande papel para os planos e sustentação política de Jango e, em especial, para o projeto das Reformas.
Nesse livro, o leitor é levado aos bastidores de alguns fatos (como o Comício da Central do Brasil) e a conhecer um pouco mais personagens que marcaram o período histórico que vai — principalmente — de 1954 a 1964. As conspirações políticas para derrubar os governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Jango e a tentativa de autogolpe de Jânio Quadros. Desfilam nomes outros como Carlos Lacerda, Leonel Brizola, Luiz Carlos Prestes, Francisco Julião, Magalhães Pinto, Adhemar de Barros, além, é claro, de João Goulart, que foi mais que um político para Riani. Foi um amigo e confidente. Enfim, grande parte dos personagens que marcaram um dos momentos mais ricos da História do Brasil.
Nessa primeira parte — “As botinas tentaram calar” — paramos em 1964, depois que Riani se apresenta aos militares em Juiz de Fora, onde recebe voz de prisão.
No livro o leitor consegue acompanhar tudo o que aconteceu com Riani desde sua chegada a Juiz de Fora na madrugada do dia 5 de abril de 1964. O passo a passo até a sua prisão.
Além da pesquisa documental, o livro conta com o relato pessoal de Clodesmidt Riani em sua longa entrevista concedida ao próprio autor em 1996, que deu origem ao Dossiê Riani, uma entrevista publicada em dez domingos seguidos no jornal Diário Regional de Juiz de Fora, totalizando 40 páginas em formato ‘standard’. Tem ainda os relatos do próprio Riani, em seu depoimento ao arquivo da Fundação Cultural Alfredo Ferreira Laje (Funalfa), de Juiz de Fora, reunidos e organizados pelos professores Hilda Rezende Paula e Nilo de Araújo Campos, no livro “Trajetória”, de 2005.
E, para finalizar, o prefácio escrito por Maria Thereza F Goulart, ex-primeira-dama, viúva do ex-presidente João Goulart, resgata a relação entre Jango e Riani.
Serviço: “Riani — 1.ª Parte — As botinas Tentaram Calar”. Lançamento dia 22 de junho, às 19h30, na Câmara Municipal de Juiz de Fora. Autor: Anibal Pinto. Contatos: (32) 98848–6255; anibalpintojf@gamil.com