15/12/2025
Artigo | A Indecisa "Classe média"
Veja o que propõe o Sociólogo Bolivar Lamounier: “contatar 1 milhão de cidadãos sérios para que eles multipliquem esse esforço, identificando o maior número possível de pessoas igualmente sérias, atiladas, corajosas, competentes e com vocação de liderança. A ideia é motivar essas pessoas a se candidatarem a deputado federal e, onde for realista, a senador. Penso que um esforço dessa envergadura há de eleger um número suficiente, pelo menos, para modificar o “clima” que tem prevalecido na Câmara federal. É pouco? Sim, é pouquíssimo. Mas é melhor do que nada, e muito melhor que permanecer de cabeça baixa.
Essa convocação não parte de um vazio. Parte de uma base: um esboço de programa de governo, fundado em cinco pontos fundamentais. Aos que estiverem de acordo com ele, ou pelo menos que o considerem digno de debate, peço compartilhá-lo com conhecidos, amigos, parentes e instituições. Aos que não estiverem de acordo, apelo a que proponham outro. Ou que aperfeiçoem este.
Lamounier propõe o seguinte programa para os futuros candidatos: Crescimento com abertura e produtividade: reinserir o Brasil nas cadeias globais de valor com acordos comerciais estratégicos, redução de barreiras tarifárias e estímulo à exportação de bens industriais e serviços. Reformar o sistema tributário para simplificar e premiar o investimento produtivo. Promover políticas de concorrência e inovação tecnológica como motores do crescimento; Responsabilidade fiscal com qualidade do gasto público: consolidar o equilíbrio das contas públicas, com foco no controle da dívida e na previsibilidade de regras fiscais. Substituir gastos ineficientes por investimentos em capital humano, infraestrutura e segurança pública. Fortalecer mecanismos de avaliação e transparência na gestão pública; Educação e primeira infância como prioridades nacionais: universalizar o acesso à creche de qualidade e à pré-escola. Melhorar a formação e remuneração de professores.
Criar incentivos federais para que Estados e municípios avancem em alfabetização na idade certa e combate à evasão no ensino médio; Transição ecológica e reindustrialização verde: tornar o Brasil líder global em energias renováveis, descarbonização da agropecuária e produção de insumos verdes. Criar uma nova política industrial voltada para cadeias produtivas de baixo carbono, com crédito, P&D e parcerias público-privadas; Redução da desigualdade com oportunidades e proteção social eficaz: aprimorar o programa de transferência de renda com foco em condicionalidades e emancipação. Ampliar a cobertura do seguro-desemprego e da Previdência para trabalhadores informais. Estimular o emprego com políticas ativas de inserção no mercado de trabalho, especialmente para jovens e mulheres.
Feita essa contribuição, vem a pergunta-chave: quem poderá liderar uma transformação dessa ordem? Os nomes que logo vêm à nossa mente talvez possam. Ou não. Observe-se que essa perspectiva tem como pano de fundo um quadro mundial incerto e imprevisível. Seria um nome mais à esquerda ou um nome mais à direita. Um nome da atual situação ou um nome da oposição. Ou um “outsider” que se apresentaria como o anti-sistema. Tal qual Leonel Brizola : “Sou contra tudo que ai está !!!”.
O grande omisso político de nossa sociedade são as camadas genericamente designadas como “classe média”. Daqueles cinco ou seis por cento que compõem a ultraelite econômica, que detêm metade da riqueza e da renda, não me parece que devamos esperar algo útil. Na outra ponta, seria puro humor negro esperar um protagonismo importante dos 50% que mal sabem como vão se alimentar amanhã.
Da classe média indecisa somos forçados a esperar muito, mas o fato é que pouco ou nada sabemos sobre ela. É homogênea no tocante a valores políticos? Tem sequer uma tênue consciência da importante mudança para melhor que poderia propiciar ao País ou do desastre em proporções porteñas a que poderá ser levada (a primeira classe também cai) se optar ad aeternum pela preguiça e pela mediocridade? E esta hoje indecisa classe média pode decidir a próxima eleição presidencial de 2026.
Gustavo Mameluque
Gestor Fazendário. Jornalista. Crítico de arte. Especialista em administração pública pela Fundação João Pinheiro MG.